Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Berkeley e do centro hospitalar Clinica de Salud del Valle de Salinas, ambos situados na Califórnia, estudou a concentração de algumas substâncias químicas em um grupo de adolescentes selecionadas no âmbito do projeto Health and Environmental Research on Makeup of Salinas Adolescents (HERMOSA), cujo objetivo era analisar os efeitos de interferentes endócrinos em jovens mulheres.

Os pesquisadores selecionaram 100 adolescentes a fim de verificar se o fato de usar, durante três dias, apenas produtos cuja etiqueta indicasse a ausência de "interferentes endócrinos potenciais" poderia diminuir a concentração dessas substâncias na urina. As adolescentes foram instruídas a trocar os cosméticos que costumavam usar por produtos que não contivessem substâncias consideradas controversas, entre as quais ftalatos, parabenos, triclosan e benzofenona-3 (BP-3).

Redução significativa da concentração

Antes da fase de testes, os pesquisadores coletaram amostras de urina das jovens participantes. Ao final dos três dias de experiência, foi feita uma nova análise de urina.

Os resultados, publicados pela revista Environmental Health Perspectives, mostraram que, depois desses três dias de teste, o nível de produtos químicos presentes no corpo das adolescentes tinha diminuído consideravelmente.

A experiência levou os pesquisadores a deduzirem que as mulheres podem reduzir de forma significativa a exposição a esse tipo de substância, simplesmente mudando de produto de beleza ou interrompendo temporariamente o uso. "O estudo mostra que os consumidores dispõem de meios para reduzir a exposição a eventuais interferentes endócrinos, por exemplo optando por produtos cosméticos fabricados sem ftalatos, parabenos, triclosan e BP-3", concluem os pesquisadores.

Efeito sanitário não comprovado

Em resposta à publicação do estudo, a CTPA (associação britânica de fabricantes de produtos cosméticos) explica que, "em nenhum momento o estudo evidenciou qualquer tipo de interferência endócrina provocada pelas substâncias identificadas".

Para a CTPA, não há nada de surpreendente no fato de o nível de algumas substâncias detectadas no corpo ou na urina diminuir quando se evita o uso de produtos que as contenham. A associação ressalta que o fenômeno não se manifesta unicamente no setor de cosméticos.

"É evidente que o corpo está habituado a lidar com as substâncias que ingerimos ou que são absorvidas pela pele. Essas substâncias são facilmente metabolizadas pelo organismo e eliminadas sem riscos. A quantidade eliminada na urina depende da quantidade absorvida", argumenta a associação. "O que realmente importa não é saber se podemos ou não detectar a presença de uma substância no corpo ou na urina, mas se a presença dessa substância pode ou não ser nociva".

A associação PCPC (Personal Care Products Council) segue o mesmo raciocínio:

"O estudo não revelou nada de novo. Os ingredientes encontrados na urina apresentam um nível de concentração coerente com os resultados obtidos por outras pesquisas, como a National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), realizada pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC). A porcentagem desses ingredientes nos exames de urina nunca foi associada a efeitos negativos para a saúde. A simples presença de uma substância não significa que ela seja nociva para o organismo".

A PCPC critica também a escolha das substâncias que os autores da pesquisa decidiram usar como referência. "O estudo abrange três ftalatos, mas apenas um deles - o dietil ftalato (DEP) - é normalmente usado em produtos cosméticos e de higiene. A inocuidade do DEP foi comprovada por diversos estudos. A cada vez, ficou demonstrado que ele é seguro nas condições em que é utilizado atualmente".

A pesquisa foi publicada na onda de questionamentos sobre a segurança dos produtos cosméticos, lançados principalmente por iniciativa de organizações de proteção ao consumidor. Segundo vários especialistas do mercado de cosméticos, uma série de manchetes sensacionalistas e a frequente associação entre produtos naturais e segurança podem favorecer as marcas de produtos naturais e orgânicos, embora a comunidade científica não se canse de dizer: "natureza" e "segurança" não andam necessariamente de mãos dadas.