Se 2015 não será lembrado com muito ânimo pela indústria brasileira de maquiagens, também não dará muitos motivos para ser esquecido. O setor, que em 2014 faturou US$ 3,455 milhões, segundo a Euromonitor, deve encerrar este ano de instabilidade política e recessão econômica no país em ligeira alta.

Maquiagens desenvolvidas pela Brasquim

Maquiagens desenvolvidas pela Brasquim

Em 2015, o consumidor não deixou de comprar. Ele acabou migrando para marcas mais baratas”, afirma Luciane da Cunha, gerente comercial e de novos negócios da Lipson, que desde 1989 atua no desenvolvimento, fabricação e envase de cosméticos para terceiros. A opinião é compartilhada por Natalia Antunes, da LUMI Cosméticos. “Com a alta do dólar, muitos consumidores buscaram alternativas com preços mais baixos e de origem nacional”, diz a sócia-proprietária da marca de perfumes e maquiagens. No mercado há dez anos, a empresa viu sua renda aumentar graças à expansão de 20% em sua equipe de revendedores em 2015. “Por conta da crise, o mercado informal de vendas cresceu em todo o país”, acrescenta.

Somando produtos para olhos, lábios, rosto e unhas, as maquiagens representam 7,7% do mercado total de cosméticos do Brasil. O país ocupa atualmente a terceira posição no consumo global de maquiagens e vêm registrando uma taxa de crescimento médio anual de 15,6% nos últimos cincos anos, de acordo com a Mintel.

A explicação para os bons números pode estar no lançamento de fórmulas mais leves e eficientes, adaptadas à pele e às necessidades das brasileiras. “Houve uma mudança no comportamento do consumidor”, diz Cunha, que acredita que não é somente cor, moda e tendência que são levadas em conta na hora de comprar.

Paula Aires, especialista em marketing técnico da Brasquim

Paula Aires, especialista em marketing técnico da Brasquim

A mulher de hoje busca maquiagens multifuncionais, com propriedades hidratantes e anti-idade, que corrijam as imperfeições da pele e tenham ação fotoprotetora, além de produtos com longa duração, que evitem várias reaplicações”, revela Paula Aires, especialista em marketing técnico da Brasquim, que importa e comercializa matérias-primas para cosméticos especiais. Para ela, ações mais agressivas nos pontos de venda, cursos de auto-maquiagem fornecidos por grandes empresas no setor e a popularidade de blogs de maquiadoras, que ensinam truques de beleza em vídeos na internet, também contribuíram para o bom desempenho das maquiagens no Brasil.

No Reino Unido, uma pesquisa recente do The NPD Group apontou ainda um outro vetor do mercado de maquiagens: as selfies. A moda de compartilhar autorretratos nas redes sociais incentiva mulheres a se maquiarem, em busca de um resultado satisfatório nas fotos. “Muitas celebridades que postam fotos maquiadas acabam servindo de modelo e inspiração para as fãs. Kim Kardashian e Beyoncé somam mais de 100 milhões de seguidores em seus perfis no Instagram. São mercados enormes, que movimentam marcas e produtos”, afirma Aires.

Apesar de um crescimento mais tímido esperado para os próximos anos, a categoria de maquiagens deve seguir em elevação no Brasil. Segundo a Mintel, a previsão é de alta anual de 11,8% nos próximos cinco anos. O setor deve investir em maquiagens de alta qualidade, porém mais acessíveis, para manter o mercado aquecido no país.

O ano de 2016 será desafiador. As marcas precisarão encontrar equilíbrio entre inovação e preços competitivos para o consumidor”, acredita Cunha. “Mas a beleza está totalmente associada à felicidade e autoestima e esses valores nunca serão deixados de lado pelas mulheres, mesmo em tempos de crise”, conclui Aires.