Makeda Cosméticos

Makeda Cosméticos

No Brasil, mais da metade da população é formada por negros e pardos, que, como qualquer etnia, têm características próprias de pele e cabelo. Se por um lado a pele negra tem maior elasticidade e resistência ao envelhecimento, por outro, é mais suscetível a manchas e oleosidade. Já os cabelos crespos tendem a ser mais ressacados e opacos. Características específicas, que demandam cuidados específicos.

Hoje, os negros somam cerca de 104 milhões de brasileiros, mas ainda representam um nicho pequeno para a indústria da beleza. Foi só a partir de meados de 1990 que os negros começaram a ter acesso a produtos voltados às suas necessidades no país. Antes disso, só recorrendo a importados ou apelando para soluções caseiras.

Em 1996, o Brasil passou a adotar as chamadas políticas afirmativas, que não mais buscavam a integração do negro na sociedade, mas reafirmavam sua identidade a partir de uma ótica positiva. “Deste cenário é que vão surgir os salões de beleza étnicos, os cosméticos para a pele negra e uma mídia impressa dedicada a este público”, afirma a linguista Amanda Braga, que acaba de lançar o livro ‘História da Beleza Negra no Brasil’.

Foi sentindo na pele – e nos cabelos – a falta de produtos adequados, que uma família negra de São Paulo decidiu empreender. As irmãs Sheila e Shirley e a mãe Sandra Dourado já trabalhavam para uma empresa americana de cosméticos para o tratamento de fios crespos quando abriram, em 1994, um salão de beleza para mulheres que, como elas, tinham dificuldade de lidar com os próprios cabelos.

No passado, fazíamos muito tratamento químico (alisamento), mas em 2006, resolvi assumir meu cabelo natural e muitas clientes gostaram do meu estilo e começaram a se interessar pelo segment”, diz Sheila Dourado. O trio percebeu a oportunidade de dar um passo maior e lançou, em 2012, a própria linha de produtos, a Makeda Cosméticos. A diferença, segundo Sheila, está nos ativos da marca, que têm grande poder de nutrição para o cuidado cotidiano dos fios crespos e cacheados.

Produtos existem, mas nem sempre estão à mão das consumidoras. A jornalista Carolina Lima costumava comprar cosméticos pela internet, mas sentia dificuldade em encontrar produtos para cabelos crespos e cacheados. “É raro vê-los na página inicial dos sites e dificilmente trazem informações detalhadas sobre a finalidade ou composição”, diz. Em parceria com a amiga Alana Lourenço, ela criou o e-commerce PraPreta, em 2013. O site reúne xampus, condicionadores, máscaras de hidratação e finalizadores, nacionais e importados, para a mulher negra, independente do tipo de cabelo que tenha ou escolha ter: crespo natural, cacheado, quimicamente tratado ou alongado.

Alana Lourenço e Carolina Lima, fundadoras do e-commerce PraPreta

Alana Lourenço e Carolina Lima, fundadoras do e-commerce PraPreta

Tanto a Makeda quanto o PraPreta preveem aumentar seus portfólios. “Pensamos em expandir com produtos para corpo e rosto, como hidratantes para pele ressecada, BB Cream e uma linha infantil”, conta Dourado. “Maquiagem com certeza está em nossos planos”, afirma Lima.

Apesar de gigantes dos cosméticos – como Avon e Natura – terem hoje em seus catálogos tonalidades que atendem à pele negra, são raras as marcas brasileiras com linhas exclusivas na categoria. Uma delas é a Muene, criada há mais de 25 anos por Maria do Carmo Valério Nicolau. A empresa destaca sua coleção de pancakes com nove tons, do bege claro ao marrom escuro. Além da cor, Maria do Carmo se preocupou com a qualidade do produto, que cobre manchas e imperfeições, sem deixar a aparência pesada, e ajuda no controle da oleosidade cutânea.

O potencial do mercado da beleza negra é imenso no Brasil, mas a indústria nacional cresce lentamente neste setor. “Nós compramos e movimentamos a economia como qualquer outra parcela da população. O negro quer e precisa ser reconhecido como consumidor”, diz Carolina, do PraPreta.