Esses setores geralmente fazem uso de argilas importadas, pois não existem similares nacionais com o mesmo grau de pureza e os fornecedores têm dificuldade em manter o padrão de qualidade de um lote para o outro”, afirma o engenheiro Francisco Rolando Valenzuela Diaz, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, falta investimento em P&D na área para que as propriedades adequadas às argilas sejam alcançadas e mantidas ao longo do tempo.

Argilas brasileiras estudadas na pesquisa

Argilas brasileiras estudadas na pesquisa

Diaz é o coordenador da pesquisa “Purificação, reologia, caracterização mineralógica e modificação de argilas brasileiras para uso em cosméticos, fármacos e outros produtos de alto valor agregado”, realizada recentemente com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O estudo avaliou o potencial do Brasil para mudar esse cenário, através da investigação e purificação de argilas encontradas em diferentes regiões do país.

As argilas indicadas para uso em cosméticos e fármacos devem obedecer rigorosos requisitos microbiológicos e de toxidade. “Algumas indústrias optam por utilizar argilas sintéticas. Embora sejam mais caras, elas possuem alto grau de pureza e homogeneidade de propriedades em diferentes lotes”, completa Diaz. Na indústria cosmética, as argilas podem ser usadas na fabricação de diferentes produtos, incluindo máscaras faciais, sabonetes, desodorantes, maquiagens e esmaltes, e também auxiliam na purificação de óleos e gorduras. Entre as propriedades medicinais das argilas estão a absorção de toxinas, o fornecimento de suplementos minerais e o uso tópico para o tratamento de doenças dermatológicas. “Em algumas aplicações, as argilas são submetidas a tratamentos superficiais para torná-las compatíveis com meios orgânicos”.

Segundo Diaz, o projeto investigou 20 tipos de argilas, purificou-as e analisou o potencial, a capacidade de reprodução de resultados e o comportamento das amostras em relação a diferentes solventes. “Das argilas estudadas, as que apresentaram melhor desempenho foram os caulins do Pará e as bentonitas da Paraíba e da Bahia”. No caso da argila da Bahia, por exemplo, verificou-se que ela não é adequada para usos nobres em seu estado natural, mas após a purificação, origina três argilas com diferentes propriedades físico-químicas e elevado potencial para as indústrias de fármacos e cosméticos.

A pesquisa comprovou ainda que as argilas estudadas podem substituir corantes e conservantes em diversas formulações, contribuindo para a fabricação de produtos ecologicamente corretos. Após identificar regiões do Brasil com capacidade de produção de argilas nobres, o próximo passo será investigar a fundo as características estruturais e físico-químicas desses minerais para estabelecer parâmetros de qualidade e desenvolver processos industriais que garantam a eficácia das argilas em diferentes aplicações. “Já há empresas interessadas na industrialização de algumas das argilas estudadas visando seu uso em produtos de alto valor agregado. Acredito que o desenvolvimento de novos produtos e sua avaliação mercadológica tenham um impacto muito positivo para a indústria a partir do uso crescente das argilas brasileiras em âmbito nacional e internacional”, completa Diaz.