Não existem estatísticas disponíveis sobre a quantidade de academias em...

Não existem estatísticas disponíveis sobre a quantidade de academias em Havana, mas já se veem dezenas no centro de cidade.

Lidisy de la Rosa, vendedora autônoma de 31 anos, não se reconhece ao ver a própria imagem em fotos antigas: graças a Armando, ela perdeu 43 kg em 9 meses - e hoje, enquanto vai tirando do armário os vestidos em forma de saco de batata, pode novamente a acalentar o sonho de engravidar. Sian Chiong, cantor de 21 anos, atribui parte de seu sucesso ao trabalho realizado com Armando, que o ajudou a modelar o corpo sarado que deixa as adolescentes cubanas em polvorosa.

Armando Yera vem atraindo para sua modesta academia um público cada vez mais numeroso - uma verdadeira proeza num país em que, durante muito tempo, o culto do corpo era taxado de aspiração burguesa e individualista pelas autoridades comunistas.

Pressão para manter a forma

"A moda do corpo sarado chegou tarde por aqui", explica Armando, 56 anos, denunciando a "rejeição do fisiculturismo" por parte do governo cubano. Armando conseguiu abrir sua academia graças à recente legalização do trabalho autônomo. Ele se orgulha de ser o personal trainer "da maioria dos apresentadores de televisão" – que, segundo ele, estão sentindo "uma pressão maior para ficar em forma".

A academia, simples mas bem transada, fica situada no centro de Havana, capital de Cuba. Na entrada discreta e sem letreiro, estão expostas fotografias "antes e depois" de clientes satisfeitos.

Não existem estatísticas disponíveis sobre a quantidade de academias em Havana, mas já se veem dezenas no centro de cidade. O número cada vez maior de clientes dispostos a malhar comprova o crescimento desse mercado. Em 16 anos, Armando passou de 20 a 80 clientes, que pagam mensalidade de 30 dólares - um preço salgado nesse país em que o salário médio é de mais ou menos 25 dólares.

Ex-agente aduaneiro, Armando Yera começou a se dedicar ao fisiculturismo nos anos 1990 e aos poucos foi transformando seu corpo. Na época, usava instrumentos rudimentares e seguia uma alimentação à base de proteínas, difícil de respeitar em uma ilha sob embargo americano. Ao longo da carreira, Armando venceu quatro campeonatos cubanos organizados de maneira independente - outra proeza num país em que as atividades esportivas são geralmente realizadas sob a égide do Estado.

"Muitas vezes, eles (o Estado) fizeram pressão para que os diretores de academias não organizassem os torneios", conta Armando. Isso se devia, segundo ele, à percepção errônea dessa modalidade por parte de alguns membros do governo, que associavam fisiculturismo com narcisismo e uso de esteroides.

Influência da internet

Paradoxalmente, foram os próprios meios de comunicação do Estado que deram impulso decisivo aos negócios de Armando. Convidado para participar de um debate sobre saúde em um programa de televisão, ele chegou acompanhado de uma cliente e fez questão de mostrar, em rede nacional, as fotos "antes e depois" da aluna. A reportagem fez sucesso, aumentando de maneira espetacular as inscrições na academia, principalmente entre as celebridades do país. Armando conquistou fama como "personal modelador do corpo" e hoje suas dicas sobre como manter a forma são veiculadas por diversas mídias do Estado.

Frequentador da academia, Dayron Delgado, um galalau de 30 anos, também pratica fisiculturismo de competição e trabalha dando aulas, embora ainda precise contar com ajuda financeira da família, que mora no exterior. Ele explica que, atualmente, "as pessoas frequentam a academia porque estão mais preocupadas com a questão estética e com a saúde".

Como tantos outros países, Cuba não está imune ao problema de excesso de peso: 44,3% de seus 11 milhões de habitantes estão de mal com a balança.

Dayron Delgado lamenta, porém, que os adeptos da academia sejam majoritariamente jovens com boa saúde que "buscam seguir o modelo" veiculado pela mídia e pela internet.

Sian Chiong, vocalista da banda pop Angeles, constata que, "em certa medida, a mentalidade global contaminou Cuba". Graças a um melhor acesso à internet e a pen drives que circulam por baixo dos panos, "o público consome mais e mais imagens e música (...) O Estado cubano tem lutado muito contra isso. Os que estão lá em cima (no poder) não conseguem entender as novas tendências", continua o cantor. Mas agora, com licença: Sian Chiong precisa retomar os exercícios para modelar o corpo. Afinal, malhar é preciso.