Elton Morimitsu, analista sênior de pesquisa da Euromonitor International

Elton Morimitsu, analista sênior de pesquisa da Euromonitor International

Brazil Beauty News – Um dos tipos de consumidor citados pelo Euromonitor é o chamado clean lifer, aquele que tende a consumir menos e que adota uma vida mais minimalista. Você acredita que o consumidor brasileiro também tende a dispensar itens considerados supérfluos e focar no que é realmente imprescindível?

Elton Morimitsu - O consumidor brasileiro está, de fato, mais racional nas suas escolhas. Isso não quer dizer que ele está reduzindo suas compras de itens de beleza. O maior expoente da tendência de clean lifers no Brasil vem pela busca cada vez mais frequente por itens que demonstrem preocupação por questões éticas e de sustentabilidade. Produtos não testados em animais, livres de componentes químicos agressivos e embalagens sustentáveis são cada vez mais frequentes. Apesar de o Brasil ser o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais no mundo, ele ainda está aquém do seu potencial. Em termos de gastos per capita, o Brasil figura em 26º na lista, ou seja, ainda há um grande potencial a ser explorado no país. Somente na categoria de colour cosmetics (maquiagem e produtos para unhas), por exemplo, o Brasil está em 33º no ranking global, reforçando que existe espaço a ser explorado pelas empresas nesse segmento.

Brazil Beauty News - De que maneira você acredita que consumidores com o perfil borrower (pessoas que trocam e compartilham produtos e serviços) poderá impactar as empresas do setor de beleza no Brasil?

Elton Morimitsu - Acredito que a indústria de beleza e cuidados pessoais será uma das menos afetadas por essa tendência. Os produtos de beleza, em sua grande maioria, são utilizados diretamente na área exposta, como pele e olhos. Preocupações em relação a problemas de pele ou até mesmo de saúde, como conjuntivite, tornam mais difícil o compartilhamento desses produtos. Até mesmo dermatologistas e oftalmologistas não recomendam que certos cosméticos sejam compartilhados.

Brazil Beauty News - A utilização das redes sociais como um serviço de atendimento ao cliente já é uma realidade no Brasil há mais de dez anos. Ferramentas que tornam o consumidor mais participativo e colaborativo podem ser encaradas como um alerta às empresas de que seus produtos e serviços estão sob constante avaliação e podem ganhar lovers ou haters a partir de comentários postados nas redes sociais?

Elton Morimitsu - As empresas ainda estão estudando qual a melhor forma de utilizar as ferramentais digitais visando os objetivos de curto e longo prazo. Contudo, a maior parte delas já entende que a mídia tradicional está perdendo sua importância. Em contrapartida, a mídia digital está se tornando cada vez mais relevante e, consequentemente, os influenciadores estão ganhando espaço. O estudo Beauty Survey, realizado pela Euromonitor International em 2017, indicou que 14% dos brasileiros se sentem influenciados por recomendações online na compra de maquiagens, enquanto 11% deles afirmam ser influenciados por propagandas em TV e revistas. Hoje, na era da informação, os influenciadores exercem o papel de dar uma opinião independente sobre produtos e marcas e isso é justamente o que muitos consumidores buscam. Em função desse novo cenário, muitas empresas estão investindo no social listening a fim de entender melhor seu consumidor e estabelecer um relacionamento mais próximo com ele.

Brazil Beauty News - Você acredita que a demanda por produtos veganos, orgânicos, cruelty free e com apelo fitness devem crescer no Brasil? Como as empresas devem lidar com essa realidade?

Elton Morimitsu - Cada vez mais os consumidores estão procurando produtos que ofereçam algo além de sua função primária. Eles buscam marcas que tenham um propósito. Segundo nossos dados da indústria de Health and Wellness, que analisa a demanda por alimentos e bebidas voltados à saúde e bem-estar, o segmento de alimentos industrializados orgânicos é um dos que mais crescem no Brasil. Entre 2012 a 2017, o segmento apresentou crescimento médio de 14% ao ano no país e a perspectiva é de que continue a crescer, em média, 8% ao ano até 2022. A indústria de beleza e cuidados pessoas também vem se beneficiando desse movimento, com muitas marcas implementando os mesmos princípios em seus produtos.

Brazil Beauty News - Muitas empresas “nasceram no Instagram” e vendem exclusivamente por esse canal. Em relação à tendência ‘Vejo do Meu Quarto’ e o foco na realidade virtual, é possível afirmar que as vendas em lojas físicas devem diminuir e migrar para canais online?

Elton Morimitsu - De maneira geral, existe uma tendência de crescimento mais acelerado do canal e-commerce nas diversas indústrias analisadas pela Euromonitor International. Compras online oferecem maior conveniência e comodidade aos consumidores, que podem facilmente buscar e comparar preços entre os diferentes varejistas. Para o segmento de beleza, também vemos esse crescimento, mas de forma mais comedida devido, principalmente, à dificuldade de se ter uma percepção completa dos produtos pela internet. Questões como textura e fragrância são bastante relevantes no segmento de beleza e não podem ser verificadas online. No entanto, a introdução de novas tecnologias, como a de realidade aumentada, podem facilitar essa migração. Empresas como Sephora e Urban Decay já estão investindo nesse tipo de tecnologia para que o consumidor possa “experimentar” os produtos online. Hoje, as empresas veem que é necessário estar onde o consumidor está. A omnicanalidade é uma realidade e as empresas que são focadas exclusivamente em um ou dois canais de venda estão investindo para aumentar seu alcance.

Brazil Beauty News - O ceticismo por produtos desenvolvidos em massa – apontado na tendência ‘consumidores detetives’ – pode levar à escolha de marcas mais caseiras, com produção limitada e itens personalizados?

Elton Morimitsu - No geral, vemos as empresas de beleza e cuidados pessoais aumentando o portfólio de produtos para atender cada vez mais às particularidades especificas de um grupo maior de consumidores. Na categoria de hair care, voltada aos cuidados com os cabelos, por exemplo, temos produtos criados para os diversos tipos de fios. Existem itens que incluem em sua nomenclatura um claim específico para os cabelos cacheados, possibilitando ao consumidor selecionar o melhor produto para sua estrutura de cacho. No segmento de maquiagem, vemos novas tecnologias sendo utilizadas para atingir um tom de pele muito próximo ao do consumidor. Produtos como o BIY (Blend It Yourself Pigment Drops), da Clinique, têm essa proposta de tornar o produto mais personalizado.

Brazil Beauty News - As empresas deveriam investir mais em grupos de consumidores que auxiliem na elaboração dos produtos? Muitas companhias já fazem isso mas, de acordo com o estudo, essa é uma tendência que deve continuar e crescer cada vez mais.

Elton Morimitsu - O consumidor sempre esteve no cerne da criação de novos produtos. Muitos dos lançamentos acabam, em algum estágio, sendo influenciados pelas opiniões dos consumidores, seja na concepção ou no período de testes das amostras iniciais. O que vemos hoje, é mais interação com o consumidor final pelo aumento do dinamismo do mercado. Incluir o consumidor no processo de criação visa incorporar o ponto de vista dessa pessoa, que recebe informações a todo instante. O cliente não quer simplesmente ter suas ideias ouvidas, mas sim ser parte ativa do processo de criação. No Brasil, vemos empresas utilizando-se dessa prática para colocar na prateleira produtos que tenham especificações mais próximas daquelas que o consumidor deseja. A parceria com influenciadores facilita o processo, uma vez que eles acabam filtrando parte das necessidades de um grupo de pessoas. Podemos citar como exemplo a linha Seda BOOM, criada em parceria com blogueiras.