Produtos de marca própria não são novidade nos supermercados brasileiros. Com preços até 30% inferiores aos de marcas consagradas – uma vez que excluem gastos com marketing, por exemplo –, eles geraram uma renda de R$ 3,25 bilhões no país em 2013, de acordo com o 19° Estudo de Marcas Próprias da Nielsen. O crescimento do segmento, porém, tem se mantido na casa dos 5% ao ano desde 2007, reflexo da desconfiança na qualidade dos produtos por parte do consumidor. Segundo a consultoria, 57% dos brasileiros – maior resultado entre os países da América Latina – acham que esses itens são destinados a pessoas que não podem arcar com os custos de um produto de fabricante.

Produtos linha capilar Pluii, da Raia Drogasil

Produtos linha capilar Pluii, da Raia Drogasil

Mas se nas prateleiras dos mercados as marcas próprias ainda não deslancham, nas cadeias de farmácias a realidade é diferente, especialmente para artigos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC). “Em 2015, o crescimento da categoria foi de 30% em relação ao ano anterior”, revela Francisco José Barros, gerente executivo de marca própria da Pague Menos. Trabalhando com artigos próprios desde 2007, a rede tem 12% de seu faturamento proveniente das linhas Amorável e Dauf, que reúnem desde sabonetes infantis até cosméticos com nanotecnologia anti-idade. “Sentimos a necessidade de entrar fortemente neste segmento quando vimos a dimensão que ele passou a representar nomercado nacional”, diz Barros.

A divisão de HPPC é a que mais tem se destacado no varejo farmacêutico do Brasil. De janeiro a setembro de 2015, as principais redes faturaram R$ 26,37 bilhões, 12,31% a mais que no mesmo período no ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). A comercialização de medicamentos subiu 11,02% e a de “não-medicamentos” – em que estão enquadrados os produtos de higiene e beleza – cresceu 14,99%, em comparação com o acumulado desses meses em 2014. Atualmente, a categoria tem participação de 33,42% nas vendas das farmácias associadas à entidade.

O trabalho mais árduo é fazer o consumidor comprar e experimentar. Uma vez atingido o objetivo, a recompra é garantida”, afirma Andreia Bernabe, gerente de produtos da Ultrafarma. Inaugurada em 2000, a rede inseriu seus primeiros cosméticos de marca própria no mercado em 2006. “Esses produtos dispensam negociação com detentores das marcas e saem das fábricas direto para nossas gôndolas, com preços muito mais competitivos”, explica Bernabe.

Ela assegura que os mais de 100 produtos da Ultrafarma no segmento, incluindo cremes corporais e sabonetes de higiene íntima da linha Rahda, não deixam nada a dever para cosméticos de outras empresas. “Os fornecedores dos nossos produtos também são os fabricantes terceirizados de diversas grandes marcas,” revela.

Ariane Haddad, gerente de marcas exclusivas da Raia Drogasil, afirma: “a ideia de que todos os produtos de marca própria possuem qualidade inferior é mito”. Com mais de 1200 lojas, a cadeia formada em 2011 a partir da fusão entre a Droga Raia e a Drogasil tem em seu catálogo artigos para cabelo e corpo da linha Pluii, itens de higiene pessoal da Needs e acessórios para cabelo e maquiagem da recém-lançada marca TRISS.

A expectativa é de que o varejo farmacêutico siga apostando nos cosméticos próprios. “O plano de crescimento do portfólio de marcas próprias e participação nas vendas continuará bastante agressivo em 2016”, afirma Haddad. Para ela, o momento delicado que o país atravessa pode até ajudar o desempenho do segmento. “O consumidor que não quer deixar de comprar um determinado produto de higiene pode optar por outro de marca própria, pagando menos”. Bernabe, da Ultrafarma, concorda. “Com o cenário econômico que estamos vivenciando, a procura por produtos mais acessíveis e de qualidade tende a aumentar. Estamos preparados para isso”.